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"Aprendi que medo não significa falta de coragem."
 
Guilherme Lima

PROJETO FOTOGRÁFICO - NO CORAÇÃO DO TAPAJÓS 

 

A inspiração para o projeto fotográfico "No Coração do Tapajós" nasceu durante as pesquisas para o meu pré-projeto de mestrado que sugere uma análise etnográfica virtual de um webdocumentário chamado "Quem Matou o Tapajós?". Nessa imersão veio o desejo de conhecer a região, uma necessidade natural de ir a campo e ver de perto tudo que envolve a luta das pessoas que procuram, mesmo sob ameaças, manter vivas sua cultura, sua terra, sua memória. 

 

A ideia do projeto "No Coração do Tapajós" é retratar a beleza natural das paisagens, o cotidiano das pessoas, a simplicidade e a tranquilidade bucólica do dia a dia.  A intenção é que essa poética visual possa servir como pano de fundo para atrair olhares aos impactos, à biodiversidade e à sociedade, capazes de destruir um ecossistema e toda uma cultura milenar dos índios Mundurukus e os mais de 200 anos de histórias da população ribeirinha que vivem na região. Um alerta, de forma sutil, sobre a violência na implantação de grandes projetos como os das hidrelétricas na Amazônia e em especial na região do Médio Tapajós.

 

A região do Médio Tapajós, no sudoeste do Pará, sofre mudanças significativas com as promessas do capital de "desenvolvimento" e "progresso" em virtude da construção de barragens para geração de energia elétrica, não importando que para isso seja necessário iludir a população com garantia de melhores condições de vida. No entanto, as barragens de Tucuruí e Belo Monte do Xingu servem de espelho para evidenciar que as ofertas de indenizações não funcionam. Assim como milhares de famílias perderam suas terras em Tucuruí e Belo Monte, o povo do Tapajós pode ter uma perda ainda maior, pois a baixa remuneração pelas terras na realidade não são como feita nas promessas, uma minoria recebe um valor muito abaixo do que merece e a grande maioria não recebe remuneração nenhuma.

 

A ambição do capital em explorar e obter lucro, coloca o povo do Tapajós em uma luta física e psicológica que envolve coerções, ameaças, criminalização de lideranças e assassinatos. É sabido que a energia produzidas em Tucuruí, Belo Monte e no Complexo Hidrelétrico Tapajós não chegará em nossas casas, sendo que pagamos algo em torno de 500% a mais do que as mineradoras. São elas que ficam com 80% de energia, enquanto nós consumidores comuns somos obrigados a usufruir uma energia com oscilações e sem qualidade que ainda por cima nos traz prejuízos e altas taxas na conta de luz.

 

Além das barragens, ainda existem as demandas da construção dos portos e a velha convivência com a Rodovia Transamazônica e as consequências com o tráfico de drogas, a prostituição e principalmente o assédio e a violência contras mulheres, crianças e adolescentes.

 

Para chegar ao Médio Tapajós fiz contato com varias pessoas gerando uma relação de confiança, muito importante em um cenário como este, até ser recebido em Itaituba por militantes do MAB - Movimento dos Atingidos por Barragens, no qual destaco a pessoa de Frede Vieira que me relatou esses fatos a partir da observação de todos esses movimentos e me deu condições mínimas para que eu pudesse fotografar essa beleza de encantar os olhos.

 

O projeto "No Coração do Tapajós" se estende em diversas séries nas redes sociais e aqui, as mais de 500 fotos, estão divididas em quatro partes: 

 

O coração do Tapajós;

O Tapajós Resiste;

Vidas em Preto e Branco; e

Paisagens em Preto e Branco.

 

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Itaituba - O Coração do Tapajós

 

Busquei mostrar neste álbum o cotidiano tranquilo da cidade de Itaituba, o bairro de São José onde se encontra as Palafitas, Vila Nova e Vila Caçula, uma aldeia Munduruku - Praia do Índio, parte da Rodovia Transamazônica que corta o município, uma família que insiste em manter um plantio autossustentavel em meio às ameaças de madeireiros e agronegócio, e a paisagem natural em torno do Rio Tapajós.

 

Itaituba é uma pequena cidade no interior do Pará, a 1214km de distância de Belém, localizada às margens do Rio Tapajós. Conhecida antigamente como a "cidade pepita", hoje é o centro da luta contra a construção de um complexo de barragens no Rio Tapajós e seus afluentes. No coração dessa resistência está o Movimento dos Atingidos por Barragens, o MAB, um movimento de caráter nacional que organiza os atingidos e trabalhadores em 19 estados do Brasil, fazendo luta e denunciando o impacto local e global que essas represas podem causar. No bairro São José onde se encontram as Palafitas vivem cerca de 110 mil moradores no centro do município. Em seguida visitei uma das aldeias Mundurukus, a mais próxima do perímetro urbano e o assentamento urbano Nova Mirititutba no Distrito de  Miritituba.

 

A Rodovia Transamazônica foi inaugurada em 1972 durante o regime militar para ligar as regiões Norte e Nordeste do Brasil com o Peru e o Equador. Desde a sua inauguração, há 44 anos, nunca foi concluída. Ao cruzar a cidade de Itaituba ela é cortada pelo Rio Tapajós e a travessia de pessoas, animais, veículos e cargas é feita pela balsa da Rodonave Navegações, a única que detém o direito de fazer trajeto. As fotos retratam a paisagem em torno da rodovia, parte dela asfaltada e parte não e um dos muitos balneários próximos em que as pessoas vão com suas famílias e amigos para momentos de lazer. Já na altura do Km 30, em Campo Verde, as fotos revelam o fluxo dos caminhoneiros e onde tive contato com alguns adolescentes que em depoimento falaram, entre outras coisas, sobre educação, violência, e como é ser jovem na região da Transamazônica.

 

Na companhia de padres alemães e brasileiros que cruzei no meio da viagem visitei uma família jurada de morte pelo agronegócio e madeireiros.  A ameaça ocorre porque eles insistem em manter uma cultura autossustentável dentro de 100 hectare de terra, sem uso de agrotóxicos e sem a derrubada da floresta, utilizando apenas os recursos que a terra oferece e reaproveitando madeira morta. As fotos foram realizadas com certa apreensão porque capangas contratados pelo agronegócio na região poderiam perceber a presença da câmera no local e isso certamente custaria a minha própria vida.

 

 

Pimental - O Tapajós Resiste

 

Pimental é uma vila de pescadores as margens do Rio Tapajós no coração do Pará distante 65 Km em linha reta de Itaituba, foram 3 horas na boleira de um micro-caminhão até chegar no lugar. Pimental é uma comunidade bem tranquila e a beleza natural é incrível. É aqui onde o Governo Federal pretende construir a usina de São Luis do Tapajós que vai inundar toda comunidade caso seja construída a barragem, e também parte do Parque Nacional da Amazônia e aldeias indígenas. O que prejudicará área de pesca e caça que faz parte da cultura do povo. Esse é o motivo pelo qual busquei revelar o cotidiano da população local e a relação delas com o rio, principalmente a diversão das crianças e os afazeres domésticos como a lavagem da roupa e das louças e mostrar como o Rio Tapajós é a vida dessas pessoas e de tantas outras vidas ao redor dele.

 

Saindo de Pimental uns 30 Km rio acima e mais 2 horas de barco visitei outra aldeia Munduruku, a Sawré Muybu, símbolo da resistência contra a construção das barragens. Na ocasião o cacique estava em viagem e sem a autorização dele fiquei pouco à vontade para fotografar. Mas pude ouvir os relatos de ameaças que deixa em desassossego até os mais valentes, relatos da luta pela sobrevivência de uma cultura milenar Mundurku às margens do Tapajós que pode ser inundada e da luta pelo sobrevivência do próprio Rio Tapajós que já sofre as consequências destas obras na regiões próximas.

 

 O Tapajós em Preto e Branco

 

"O Tapajós em Preto e Branco"  vem da minha paixão pela fotografia em preto e branco, da vontade de retratar pessoas e lugares neste formato. Isso vem desde quando trabalhei como assistente de laboratório fotográfico em uma faculdade e me apaixonei pela magia da revelação em preto e branco. A série está dividida em dois álbuns: "Vidas em Preto e Branco" e "Paisagens em Preto e Branco". Usei nestas fotos um tom mais esverdeado, buscando uma sensação mais densa e menos pálida da fotografia Preto e Branco.  

 

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Depois de Itaituba, no Médio Tapajós, segui viagem de barco por quase toda extensão do Rio Amazonas até Iquitos na selva peruana. Voltando para Manaus pelo Acre através do Rio Madeira. Ao todo foram mais de 7.000 Km rio acima e abaixo e 25 dias de viagem dormindo numa rede como qualquer outro passageiro,  junto com todo tipo de carga como eletrodomésticos, alimentos e animais. Este é mais um registro documental de brilhar os olhos.

 

 

Agradecimentos Especiais

 

Elitiel Guedes - Que me colocou em contato com pessoas-chave que me acolheram e viabilizaram parte do projeto.

 

Jean Brito - Grande fotógrafo paraense que me recebeu em sua casa em Beléme me mostrou a cidade. Com ele eu conheci o Rogério do MAB.

 

Rogério Paulo Hohn - Coordenador do MAB na região do Pará que me colocou em contato com Fred em Itaituba.

 

Frede Vieira - Tornou-se um amigo em  Itaituba que eu levo para a vida toda. Ele me acolheu na sede do MAB e andou comigo por toda a região facilitando a produção das fotos e o contato com personagens interessantes. Com ele aprendi muito sobre política, sobre a real luta do povo e como ter um olhar macro sobre as coisas, a partir da da plena vivência e conhecimento do seu espaço micro-cósmico.

 

Rejania Macêdo, Lucielle Souza Viana e Heidy Luvia Lima - Grandes mulheres da região, militantes do MAB que me acompanharam em Pimental. Com elas pude conhecer e fotografar um dos lugares mais bonitos do  Brasil.

 

Agradecimentos

 

Ada Tifany, Alessandro Almeida,  Lorena Medrado, Jaqueline Damasceno, Debora Azevedo, Seu Luis Lima, Dona Chica, Dona Josefa, CAK, Telva, Joilma, João Ferreira, Oziléia, Raian, Robert, Orlando, Gizely Sousa Moura, Junior Alves, Milene Sindor, Milene Sindor, Raione Lima, Filho e Neuza Brasil, Everaldo Manhuari Munduruku, Lane Lima.

 

Moradores de Vila de Pescadores Pimental

Indígenas das Aldeias Mundurukus

Movimento dos Atingidos por Barragens - MAB

 

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